Neurônios Espelho


NEURÔNIOS ESPELHO: O PALCO DO SHEN E DO HUN?

Em 1992, um neurofisiologista em Panama estava fazendo uma pesquisa utilizando macacos. Ele estava pesquisando uma área específica do cérebro, denominada F5, no córtex pré-motor.

  

 A area F5 contém milhoes de neuronios especializados em codificar uma atividade motora: os movimentos da mão, incluindo segurar, apertar, rasgar e o mais importante, trazer coisas (alimentos) para a boca. Iacobini citou que “para todos os macacos essas ações são básicas e essenciais. Nós, homo sapiens pegamos e manipulamos coisas desde a hora em que desligamos o despertador ao despertar até ajeitar novamente o travesseiro para dormir no fim da noite. Simplesmente tudo! Realizamos centenas, talvez milhares de ações de pegar e manipular todos os dias”. Então esse foi o motivo que a equipe do Rizzolati escolheu a área F5 como foco da pesquisa.

Um dia o neurofisiologista Vitorio Gallesese estava andando no laboratório num momento de pausa. O macaco estava sentado quieto numa cadeira, quando Vittorio pegou um sorvete e um som foi emitido pelo computador aonde estavam conectados os eletrodos, implantados cirurgicamente no cérebro do macaco. O experiente pesquisador sabia que o som era um aviso que a área F5 estava em atividade. Mas, estranhamente o macaco continuava sentado imóvel, sem segurar nada em suas mãos, contudo os neuronios responsáveis por controlar a mão estavam em atividade.

Realizando outros experimentos bem elaborados, os neurofisiologistas descobriram que na área motor F5 existem neuronios especialistas (cerca de 20%) que são ativados não quando uma atividade motora é realizada mas quando assistimos alguém realizando a atividade, ex: pegar coisas, levar alimentos à boca, arremessar uma bola, etc. Esses neuronios até entram em atividade quando se escuta uma palavra, como “arremessar”. Inclusive, eles se ativam mesmo quando o objeto não está a vista dos olhos, mas escuta-se o som.

Crucialmente, os neuronios espelho estão envolvidos em compreender o motivo de uma certa ação: isso é essencial na comunicação e relacionamento com os outros. “ A ação de compreender ações é uma espécie de simulação ou imitação interna de uma ação observada. Sabendo disso, nossos próprios movimentos são, quase sempre, associados a intenções específicas, a ativação no meu cérebro, dos mesmos neurônios que eu utilizaria para realizar aquelas ações poderiam me ajudar a compreender as intenções dos outros.”

Por exemplo, se eu vejo alguém agarrar um copo, logo depois de ter discutido comigo, graças aos nerônios-espelho eu saberei que ou a pessoa está com sede ou vai jogar o copo em mim. De uma forma simples, os neuronios-espelho diferenciam uma mesma ação com intenções diferentes.

Após anos de experimentos feitos por diferentes neurologistas, acredita-se que os neuronios-espelho estejam envolvidos em muito mais ações além da atividade motora de “imitação” quando vê alguém fazendo uma ação. Agora, eles são suspeitos de estarem relacionados com ligações emocionais, empatia e linguagem.

Os neuronios-espelho tem um papel importante na empatia (capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa). A área cerebral que conecta os “espelho” ao sistema límbico (área das emoções) é a insula. Em outras palavras, percebemos e compreendemos as emoções dos outros graças a eles, que são ativados pela visão de alguém sorrindo, chorando, franzindo a testa, etc. Então “ nossos neuronios-espelho se ativam quando vemos os outros exprimindo emoções, como se eles mesmos estivessem produzindo aquelas expressões. E quando se ativam, eles mandam sinais para nosso centro emocional, no sistema límbico, o que nos faz sentir como os outros estão se sentindo.”

Para que essa empatia, causada pelos neuronios espelho ocorra, é indispensável a expressão facial dos outros. Para James Lange, autor de uma das teorias das emoções, esse fenômeno quer dizer que nossa vida mental está associada aos nossa postura-movimentos corporais, no termo literal. Aliás, essa é a conexão entre as emoções e o Po na medicina chinesa.

Esses neurônios tem tambem um papel importante no desenvolvimento do senso do “self”. O contexto social é fundamental no desenvolvimento do “Eu”. O isolamento parece inibir a formação desse senso. Já uma vida social diversificada facilita essa formação. A presença de outros, a sucessão de relacionamentos e interações com outras pessoas fazem com que o indivíduo desenvolva seu “self”. Os neuronios espelho entram em atividade quando observamos ações e quando realizamos estas mesmas ações. Existe uma ligação fortíssima entre o ambiente social e a formação do eu, e la só existem por causa dos neuronios espelho.

Por causa disso, tem-se a hipótese que esses neuronios diferenciados teriam ligação com o autismo. Nesta síndrome existe um déficit da “imitação”, por exemplo, a criança é incapaz de compreender a perspectiva de um outro indivíduo e de trazer para sua própria perspectiva. Agora, acredita-se que a chave para compreender o déficit neural do autismo seja uma disfunção dos neuronios espelhos. Como Iacoboni diz: “a sensação de compreender o que o outro sente é o que nos aproxima das pessoas e nos faz estabelecer laços com elas, e isso parece ser o princípal déficit nos pacientes com autismo”.

O que tudo isso tem a ver com a medicina chinesa, particularmente com o Shen e o Hun? Acredito haver uma conexão interessante entre neuronios espelhos, Shen e Hun. Shen e Hun são responsáveis pela empatia e pela relação com os outros. Vejamos o ideograma de “shen”.


A parte esquerda, pronunciada shi, indica algo espiritual, como céu e estrelas, mas também um antigo altar de sacrifícios, que tem relação com paraíso. Gosto da palavra “sobrenatural” para nominar essa qualidade do céu.
 
 

A parte direita do ideograma é muito interessante, pronuncia-se “shen” e ela quer dizer, auto-expressão, alongar, extensão.

Os últimos dois significados, algongar e estensão, são cruciais para compreender o que o Shen faz: ele é responsável para nos estender até os outros, para que nos conectemos com eles, emocionalmete e tenhamos empatia. Em outras palavras, o Shen funciona como os neronios espelho.

Contudo, o Shen não pode realizar essa função sozinho, ele conta com o suporte do Hun e por isso, os livros antigos dizem que eles trabalham em uníssono (ambos são yang por natureza) e tem como opositores Po e Jing (ambos yin).

Como o Hun ajuda o Shen? Ele é responsavel por uma consciência diferente da do shen e responsável pela intuição, planejamento, sonhos de vida, ideias, inspirações e inspiração artística. E como o Hun faz essas funções? Através de seu movimento: o Hun sempre se move na direção do conhecimento, exploração de ideias, sonhos inspiradores... Sem esse sopro do Hun, o Shen seria uma consciência inerte, sem ele o Shen não faria a função de se relacionar e conectar com outros. Novamente, a função dos neuronios espelho na medicina chinesa.

Essa movimentação do Hun precisa ser “ a certa”, nem demais, nem de menos. Se o movimento for deficiente, a pessoa ficará deprimida. Se o movimento for excessivo, a pessoa desenvolverá manias. Eu relaciono o autismo com uma deficiencia do movimento do Hun, que provoca uma função deficiente do Shen, em se relacionar com outros. Como foi sugerido, isso foi relacionado aos neurônios-espelho.

Em oposição, relaciono a hiperatividade infantil com uma movimentação excessiva do Hun e, curiosamente, crianças hiperativas são muito criativas e artísticas (que é função do Hun). E como se estimula o movimento do Hun? Utilizo o canal da Bexiga, em especial o ponto B-40 Quixu. Para diminuir o movimento do Hun, uso o F13, Taichong. Outros pontos que regulam o Shen e o Hun: Du24 (shenting) e B13 (Benshen).

(fevereiro 2012)

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